sábado, 21 de junho de 2008

CLÁUDIA E TÚLIA

Cláudia e Túlia

Flávio Mussa Tavares

Estava eu a transitar a pé pelas ruas do centro de nossa cidade neste sábado 21 de junho, ainda sentindo em tudo a referência espiritual à nossa querida Célia Lucius, quando recebi de um marqueteiro de rua uma propaganda de “Conselheira Espiritual”, que “faz e desfaz qualquer tipo de trabalho, simpatias para o amor e todos os fins, oferece respeito, seriedade e confiança, além de garantia imediata e sigilo absoluto.”

Fiquei então a meditar sobre duas personagens específicas do “50 Anos Depois” que buscaram conselheiros espirituais para problemas amorosos.

Uma é Cláudia Sabina, que buscou uma médium que também fazia e desfazia qualquer tipo de trabalho e resolvia necessidades amorosas e para qualquer tipo de fim. O objetivo de Sabina era obter o amor de Helvídio com a morte de sua esposa, sua rival e inimiga figadal.

Outra era Túlia Cervina, que buscou uma reunião cristã genuína por estar sofrendo com o afastamento emocional e físico do marido e obteve, no seu entender uma graça, pois o esposo ficou mais afeto ao lar.

Vemos então dois tipos de pessoas.
Cláudia e Túlia. Cláudia quer a destruição de algo para obter a sua graça. Túlia só se interessa pela sua felicidade conjugal, sem ofender a ninguém.

Dois tipos de ajuda espiritual.
Cláudia procura Plotina, a médium que trabalhava como uma feiticeira, como uma bruxa que entre seus amuletos e apetrechos lia a mente da entrevistada, perscrutava o ambiente e sugeria a malícia refinada. Ensinou a Cláudia, por exemplo, que não devia matar a sua rival, pois o sentimento entre ela e Helvídio era espiritual e só a morte do espírito mataria o liame entre eles. Propôs a Cláudia a simulação de um parto no dia da chegada de Helvídio de uma viagem que durara um ano. Com essa insinuação de traição e adultério, ela mataria a alma de Alba Lucínia e teria o seu amor para sempre. Todavia, como Plotina era mesmo uma médium de alta percepção, sentiu a presença espiritual de Célia Lucius e adiantou que havia uma força do bem poderosa que poderia desarticular todo o plano das trevas.
Túlia buscou uma reunião cristã, conversou com o pregador do Evangelho chamado Policarpo que lhe deu conselhos morais dos quais muito se beneficiou. Policarpo não foi buscado como intermediário de notícias do outro plano ou de facilitador de favores, mas sim como alguém que, portador de sabedoria, poderia elucidar a situação e aconselhar segundo o espírito.

Duas motivações amorosas.
Cláudia era motivada pela paixão possessiva, obsessiva e egoísta. Queria a destruição de um lar harmonioso governado pela afeição, para a construção de uma relação que teria base na paixão erótica.
Túlia era motivada pela carência afetiva, pela admiração ao esposo, pela saudade dos velhos tempos de amizade e pela esperança de que seu marido não se perdesse em desvios de caráter e de que o lar não se desfizesse.
Cláudia é o contra-exemplo. Representa tudo que é abominável em uma mulher. Sensualidade excessiva, desrespeito pela liberdade alheia, egoísmo extremo, desrespeito ao próprio lar, malícia, astúcia, crueldade, cupidez, ambição, espírito rancoroso e odiento. Sua ética de vida é a de uma mulher fútil e grosseira que apenas vê o imediatismo de seus instintos básicos.

Não temos em Túlia Cervina um exemplo de cristã, mas ao menos temos nela um modelo de dignidade. Não é um ideal de mulher apresentado por Emmanuel, mas é um tipo psicológico que vive dentro de uma ética aceitável e coerente com os princípios de qualquer sociedade honrada. Toda mulher tem o direito de tentar salvaguardar o seu lar e ajudar àquelas que tem a sua paz doméstica ameaçada por aventureiras.

Infelizmente no meio espírita há uma grande complacência com o modo de vida moderno.

Tenho visto em várias outras denominações programas de ajuda às famílias com problemas de desajuste, o que é um fato pouco evidente nas instituições espíritas. Isso é uma pena, pois nós somos legatários de um conhecimento tão vasto, que faz um link eterno e indissolúvel entre nossas diversas existências. Nós, mais que todos, temos um compromisso de nos sustentar mutuamente nas possibilidades de desistência nas lutas da vida.

A conclusão deste breve olhar sobre estas duas mulheres do romance de Emmanuel, é que quando se busca o Espiritismo apenas para problemas físicos ou emocionais, mesmo sem qualquer intuito de melhora interior, ainda assim, a espiritualidade se apieda e faz de nós instrumentos de ajuda a quem cumpre com os requisitos da Divina Providência.

2 comentários:

Rose disse...

Esta sua página aborda um assunto grave e bastante atual!
Impressionou-me a sua desenvoltura ao fazer as associações comparativas entre Túlia e Cláudia!
Um estudo muito bem feito, Flávio!
Deus o abençoe!
PAZ e Luz!
Carinho,
Rose.

Marilac disse...

Flávio,
Chego ao seu blog através de Benjamim e de Rose.
Realmente esse post aborda um assunto atual e que infelizmente acontece muito...
Você faz de forma clara o paralelo entre o comportamento e as motivaçõs das duas mulheres.

Que Deus nos abençoe

abraços,
Marilac